A Mensagem - Análise e Comentário
Um supra Camões?
Foi o único livro escrito em português e publicado por Fernando Pessoa, em 1934, e posto à venda, propositadamente, no dia 1 de Dezembro. Trata-se de uma colectânea de poesias breves compostas em épocas diferentes mas com uma certa unidade referencial: a visão mítica da pátria portuguesa. No fundo, estamos em presença de uma sucessão de breves poemas sobre figuras ou momentos da nossa história até ao declínio do Império. Contém marcas simultaneamente épicas e líricas onde o leitor pode contemplar, como que numa galeria, essas figuras e esses momentos sobre os quais Fernando Pessoa exprime a concepção trans-histórica e mítica, e prefigura o surgimento da pátria cultural portuguesa que constituiria o V Império, cuja origem converge no mito do sebastianismo.
Esta obra "mensagem", no início era para se chamar "Portugal", mas Fernando Pessoa faz publicar esta obra com o nome de "Mensagem", talvez porque não seja referente a Portugal, mas sim à mensagem de Portugal. É também curioso que Fernando Pessoa, programou toda a sua vida e a dos seus heterónimos pelos seus temas astrológicos. Inclusive previu a sua própria morte (física) mas, devido a um erro de aproximadamente 3 minutos no registo da sua hora de nascença na certidão, ele faleceu sensivelmente meses antes do que tinha previsto, deixando a sua obra incompleta e talvez a "mensagem". O poeta começa por nos dar uma localização geográfica de Portugal. Insere-o indubitavelmente na Europa, mas incute-lhe a carga mágica de ser "a cabeça da Europa". O local onde a Terra acaba e o Mar começa, o promontório da Europa, local sagrado guardado pelos anciãos e druidas.
“Estamos, na verdade, perante um livro que obedece, na sua arquitectura interna, a uma estrutura esotérica”. Ele divide-se em três partes: Brasão, Mar Português e Encoberto. Este esqueleto ternário corresponde, sem dúvida, para Pessoa, a uma intencionalidade oculta. Com efeito, o mesmo número aparece retomado nas suas subdivisões”.